Citation of this paper |
Os ruminantes aproveitam de 15 -15% dos nutrientes ingeridos com as forragens. O restante é retornado ao ambiente por meio de suas excretas (fezes e urina). Há o conceito de que as excretas desses animais são o ponto fundamental para se conseguir a sustentabilidade no sistema de pastagens, através da sua utilização como adubo orgânico. Contudo, muitos fatores interferentes como: desnitrificação, fixação de fósforo e volatilização de amônia, tornam a ciclagem de nutrientes não eficiente.
Esse trabalho discute o sistema de ciclagem de nutrientes, por meio dos excretos dos ruminantes, a sua distribuição na pastagem, como também, os efeitos dos nutrientes no componente botânico da pastagem.
Termos de indexação: ciclagem de nutrientes, distribuição dos excretos nas pastagens.
The ruminants only utilize a proportion of the ingested nutrients from forages. The rest is returned to the environment as excreta. There is a concept that the excreta of these animals is a fundamental component to ensure the sustainability of the pasture system, through its utilization as organic fertilizer. However, many factors interfere with the utilization of the excreta such as ammonia volatilization, nitrate and potassium lixiviation, phosphorus fixation which can make the cycling of nutrients inefficient.
This study discusses the nutrient cycle system, involving the excreta of ruminants and its distribution in the pasture, and the effect of these nutrients on the botanic component of the pasture.
Key words: Excreta, nutrient cycling, pastures
A presença de excretas dos ruminantes é uma importante via de retorno de nutrientes para as plantas em condições de pastagem. Nitrogênio (N), sódio (Na), Cloro (Cl) e enxofre (S), são excretados em significativas proporções, tanto nas fezes, quanto na urina destes animais. Alguns elementos são excretados preferencialmente pela urina como o potássio (K), enquanto outros são pelas fezes como o fósforo (P), cálcio (Ca), magnésio (Mg), cobre (Cu), zinco (Zn), ferro (Fe) e manganês (Mn), (Haynes e Williams 1993). A presença dos excretos no pasto, freqüentemente, provocam um aumento da produção de matéria seca nas plantas próximas a eles localizadas devido ao aproveitamento de parte dos nutrientes. Contudo, o aproveitamento dos nutrientes pode não acontecer de maneira eficiente. Por exemplo, durante o pastoreio, 90 a 95% do N removido com o consumo da forrageira é retornado, com as excreções, de maneira concentrada a pequenas áreas da pastagem (Petersen et al 1956, Borrow 1987, Morton e Baird 1990). Com as fezes, o aporte de N pode contribuir significativamente para a nutrição da forrageira somente se esse material for incorporado ao solo. Na urina, a principal fração nitrogenada, que pode ser representada pela uréia, é rapidamente hidrolisada a amônio (NH4+), que acarreta aumento do pH local gerando perdas substanciais de N por volatilização da amônia (Fenn, Mathocha e Wu 1981; Ball e Ryden 1984; Fenn e Hossner 1985; Mello 1987; Jarvis e Pain 1990; Buresh e De Datta 1991; Haynes e Williams 1993; Ferreira 1995, 2002).
Há o conceito de que se pode adubar o pasto com o uso dos animais que o utilizam. Todavia, para tal feito, deve-se considerar, além da aquisição eficiente dos nutrientes dos excretos pelas plantas, a sua distribuição na área do pasto. Assim, o objetivo deste trabalho é discutir de maneira geral sobre os modelos matemáticos desenvolvidos para o estudo da distribuição dos excretos de bovinos na superfície do solo sob pastagem.
Para saber o quanto da pastagem pode ser ocupada superficialmente pela deposição das excretas deve-se conhecer a área individual ocupada por cada excreção. Essas áreas podem variar de acordo com o tamanho do animal, sexo, raça, idade, estado fisiológico, condições de clima, permeabilidade, umidade e cobertura do solo, ingestão de água, qualidade do alimento ingerido, movimentação do animal e topografia do terreno (Afzal e Adams 1992; Haynes e Williams 1993; Peterson e Gassrish 1996; Mathews et al 1996; Monteiro e Werner 1997). Assim, a superfície ocupada por cada excreto, produzida por um bovino adulto, pode variar de 400 a 800 cm2 (Petersen et al 1956; Morton 1984), e atingir até 1000 cm2 (Rodrigues 1989), ou 1020 cm2 (Macdiarmid e Watkin 1972), ou mesmo 1200 cm2 (White et al 2001), tendo sido o maior valor encontrado na literatura. A freqüência pode variar de 4 (Costa 1988) a 14 evacuações por dia (Macdiarmid e Watkins 1972; Simpson e Stobbs 1979), sendo o total de matéria fresca produzida por um bovino adulto, macho ou fêmea, de 25 kg.dia-1, por 500 kg de peso vivo (CNPGL 1984). De modo geral, as mensurações individuais de fezes depositadas no pasto, não envolve grande dificuldade, exceto em áreas de concentrações de animais que, por efeito do pisoteio, as espalham. Entretanto, para se obter um maior número de informações com relação ao comportamento de eliminação fecal destes animais (freqüência, horário), deve-se disponibilizar pessoas ou mesmo máquinas filmadoras para seu melhor acompanhamento.
A superfície de deposição de urina pode ocupar de 0,2 m2 (Morton 1984; Petersen et al 1956, Spain e Salinas 1985) a 0,8 m2 (Simpson e Stobbs 1979). A freqüência de cada evento pode variar de 4,5 a 12 micções por dia (Petersen et al 1956; Morton 1984; Costa 1988). O volume total excretado por um bovino adulto varia entre 6 a 20 litros.dia-1(Gurtler et al 1987).
Em relação à urina, as mensurações passam a ser mais trabalhosas. Metodologicamente, existe a necessidade do acompanhamento dos animais a fim de se tornar possível a marcação da área tomada pela urina e a sua extensão após os animais completarem cada evento de micção. Outro recurso que pode ser empregado neste caso é o de se ministrar aos animais fluoresceína de sódio. Ao ser eliminada com a urina essas áreas podem ser identificadas a noite por meio do uso de lâmpada ultravioleta (Morton e Baird 1990). Em face aos custos e às dificuldades metodológicas, para o estudo da distribuição da urina no pasto, alguns autores estimam para o número de micções, o mesmo número observado para as fezes depositadas no piquete ou no quadrante em estudo, uma vez que a freqüência destes eventos é semelhante. Para a estimativa da área ocupada pela urina atribui-se que, no mínimo, é duas vezes maior do que a das fezes (Haynes e Williams 1993). A maioria dos trabalhos consultados têm as fezes como objeto de estudo de distribuição.
A efetividade do retorno de nutrientes das excretas nas pastagens depende da quantidade (número) de excretos depositados, da proporção da área da pastagem ocupada, do grau de uniformidade de sua distribuição, da taxa de nutrientes retornados e do aproveitamento destes nutrientes pelas plantas.
Há três funções teóricas básicas para o estudo de distribuição das excretas dos animais no pasto. A função mais simples é a de Distribuição simples ou a de "não sobreposição", a qual é obtida assumindo-se que nenhuma porção da área do pasto é coberta uma segunda vez pela excreção até que o restante da pastagem tenha sido coberta uma primeira vez (Petersen et al 1956). A medida da densidade de excretas no pasto (D), ou seja:
Para a densidade de excretas no pasto a variável N depende da quantidade de excretas produzidas pelos animais presentes na área. Cabe mencionar que, uma vaca tende a urinar e evacuar com uma freqüência média de 8 e 9 vezes por dia, respectivamente. Em sistemas intensivos de pastejo há, usualmente, 100 a 200 animais por hectare.dia-1 (Richards e Wolton 1976), tornando o estudo de distribuição simples difícil de ser implementado e não representativo. A correlação de sobreposição das excretas se torna mais importante com o aumento da densidade de animais. Macdiarmid e Watkin (1972), usando essa distribuição como exercício teórico e assumindo que 5% da área de pastagem é coberta pelas fezes de bovinos em um período de pastejo; que a área de influência das fezes para o crescimento das plantas é de 3 vezes a área ocupada pelas fezes e que, seu efeito permaneceria por quatro períodos de pastejo, obteve que o crescimento das plantas, devido a influência das fezes, levaria 2,5 anos para ocorrer em toda a área do pasto. Um período de 10 anos seria necessário para que essa mesma área fosse completamente coberta pelas fezes. Contudo esse exercício teórico não parece muito lógico. Tendo-se que 5% da área de pastagem é afetada diretamente pelas fezes e que a influência no crescimento das plantas é de três vezes àquela área, pode-se, em um primeiro momento, ser considerado que 20% do total da área de pasto é influenciada pela presença das fezes. Assumindo-se que seu efeito dure quatro períodos de pastejo, tem-se que 80% da área de pasto é influenciado pela presença das fezes. Portando não parece lógico que o efeito das fezes permaneça por 2,5 anos e ainda, que seja necessário 10 anos para sua repetição em um mesmo ponto da pastagem. Para que tal exercíco teórico representasse melhor as condições de distribuição de excretas em pastejo, dever-se-ia dispor de dados associados a duração do efeito das fezes como também, do clima. Em clima tropical, fatores como temperatura e precipitação pluviométricas podem ser determinantes para uma melhor compreensão da ciclagem de nutrientes nestes ambientes.
A função de Distribuição de Poisson considera que uma mesma área da pastagem pode ser coberta mais de uma vez pela excreta. Assume-se que a tendência de concentração de excreta numa área particular do pasto é uniforme para o restante da pastagem (Morton 1984). Essa distribuição pode ser calculada como:
Onde: P = porção da
área da pastagem coberta pela excreta;
e = é a base do logaritmo natural
(e = 2,7182).
Morton e Baird (1990), usando a distribuição de Poisson, relatam que o comportamento gregário para ovinos foi mais significante em baixas taxas de lotação em comparação as altas taxas. Esses autores relatam que o tempo de permanência de um dia no pasto resultou em menor agregação dos animais e conseqüente melhor distribuição das fezes quando comparado ao período de permanência de 4 dias de pastejo. Cabe ressaltar que, ovinos têm maior tendência ao agrupamento do que os bovinos (Monteiro e Werner 1997) e que, em relação ao estudo de distribuição, a função de Poisson não é adequada, uma vez que serve para a descrição estatística de distribuições espaciais aleatórias para eventos raros, quando a probabilidade de ocorrência tende a zero (Krebs 1999; Batista e Batista 2003).
A função Binomial negativa não somente considera a área coberta mais de uma vez pela excreta como também, permite avaliar a tendência do animal em excretar em uma porção particular do pasto em relação a outra (Petersen et al 1956, Morton 1984). Nesta distribuição, a proporção de pasto coberta pelas excreções (P) pode ser descrita como relatam Richards e Wolton (1976), Mathews et al (1996):
Onde: D = a média das densidades de excretas depositadas no pasto durante o período de pastejo e pode ser obtido como:
D = Nt.Ae At
Onde: Nt = é o número total de
excreções na pastagem no tempo t;
Ae = é a área coberta individualmente
por cada excreção;
At = é a área total da
pastagem.
K: é um parâmetro derivado dos dados observados, o qual mensura a desuniformidade na distribuição das excretas e também a tendência de sua acumulação em uma área particular do pasto. Esse parâmetro é importante devido à distribuição das excretas não serem aleatórias e variar conforme a pressão de pastejo (Donald e Leslie 1969). Como K está fortemente correlacionado com a densidade da população, indica-se sua utilização para comparar dados com amostras de mesmo tamanho e semelhante densidade populacional. Caso não se verifiquem esses requisitos o Índice de Morisita Padronizado deve ser adotado para medir a dispersão, como mostrado adiante, uma vez que é independente da densidade da população e do tamanho da amostra (Krebs 1999). Altos valores de K são indicativos de uma distribuição mais uniforme das excretas, ou seja, com menor agregação dos animais, o que pode ser obtido com a diminuição da oportunidade de descanso com elevadas taxas de lotação e menor período de pastoreio. Por exemplo, assumindo uma média para densidade de excretas de 0,5, com 5 vacas.ha-1.ano-1 e um K=1,5, a proporção da área de pastagem afetada pelas excretas fica estimada em 35% (Richards e Wolton 1976). A fórmula de K é mostrada no desenvolvimento do artigo.
As médias dos valores de K podem ser derivadas como 1,5 para baixas taxas de lotação, como por exemplo, de 58 animais.dia-1.ha-1 (Petersen et al 1956) e para 7,0 caso nãohaja uma tendência de aglomeração (Afzal e Adams 1992) como ocorre em taxas mais elevadas de lotação, de 90-153 animais.dia-1.ha-1 (Richards 1973 apud Richards e Wolton 1976).
O comportamento de distribuição das excretas com lotações animais baixas, parecem ser mais próprias de sistemas de pastejo contínuo, onde a presença do animal não deve comprometer a produção forrageira. No pastejo rotacionado, cargas muito baixas não cumprem o objetivo de se obter um aumento de produção por hectare.
Usando a Distribuição Binomial Negativa, tendo como base uma taxa de lotação de 3 animais.ha-1 em 200 dias de pastoreio, foi possível o cálculo de distribuição de excretas em 30% da área de pasto. Mais de 90% das excreções foram atribuídas à urina que, naquelas condições, puderam representar um aporte equivalente a 200 kg.ha-1 de nitrogênio, retornado de forma desuniforme em menos de 1/3 da área de pasto (Afzal e Adams 1992).
Petersen et al (1956), testou algumas relações para descrever a distribuição das fezes com o gado em pastejo extensivo. A função de distribuição binomial negativa, que foi comparada com a distribuição simples (de não sobreposição) e com a de Poisson, resultou em valores mais próximos às mensurações feitas a campo. A mesma conclusão foi obtida por Donald e Leslie (1969) e também por Morton e Baird (1990), quando compararam as funções citadas com outras como: Log series, log normal, geométrica, Polya-Aeppli e a de Neyman type A.
Para escolha do modelo parte-se do registro das fezes depositadas no campo, que deverá ser dividido em quadrantes. Algumas estimativas devem ser calculadas como: variância (S2), média (), somatório ( Xi), soma dos quadrados ( Xi2), tanto para os registros isolados como para os acumulados no tempo experimental, por exemplo, 10 semanas (Braz 2001).
Para o ajuste das freqüências observadas aos modelos de distribuição discreta de Poisson e Binomial Negativa, pode ser utilizado o Índice de Dispersão (I) (Krebs 1999), definido como:
I = variância observada média esperada
Onde: Χ2obs=
valor do Qui-quadrado observado;
I : Índice de Dispersão;
n: número de quadrados ou quadrantes contados no
pasto.
O resultado é interpretado com o auxílio do teste Qui-quadrado bilateral, com (n-1) graus de liberdade, pelo seguinte critério (Braz 2001):
Se: X2 0,975 <X2 obs < X2 0,025 |
A variância é igual a média e o índice de dispersão é 1, ou seja, as placas de fezes estão distribuídas aleatoriamente e, assim, aceita-se a hipótese de nulidade e descreve-se os dados pela Distribuição de Poisson. |
|
|
Se: X2 obs £ X2 0,975 |
A variância é muito menor que a média e o Índice de Dispersão é próximo de zero, ou seja, as fezes estão uniformemente espaçadas na pastagem. |
Se: X2 obs ³ X2 0,025 |
A variância é maior que a média e o Índice de Dispersão pode ser muito maior que 1, ou seja, as fezes estão distribuídas de forma agregada no pasto e por isso deve ser empregada a Distribuição Binomial Negativa para se descrever os dados. |
|
||||
Figura 1. Representação do modelo de distribuição espacial aleatório, agregado e uniforme de excretas de bovinos em condições de pastagens. Adaptado de Krebs (1999) apud (Braz 2001) |
O grau de aderência entre os dados observados e os esperados (preditos), pelo modelo da Distribuição Binomial Negativa, pode ser testado pelo teste padrão do Qui-quadrado, em que:
X2 = (Freqüência observada -
Freqüência esperada)2
Freqüência esperada
Se X2 obs for menor que o valor crítico tabelado, a 5% de probabilidade, então a hipótese de nulidade de que o modelo da Distribuição Binomial Negativa se ajusta aos dados não é rejeitada.
A estimativa do parâmetro K da Distribuição Binomial Negativa, como relatado anteriormente é:
Onde: K = é o expoente da
Distribuição Binomial Negativa;
X = é a média do número de placa de fezes
depositadas;
S2 = variância amostral.
Pode se caracterizar melhor o modelo de distribuição pelo uso do Índice de Morisita Padronizado (Ip), (Smith-Gill 1975 adaptado por Krebs 1999).
Através do cálculo do Índice de Dispersão de
Morisita (Id), do Índice de Uniformidade
(Mu) e do Índice de Agregação
(Mc), com a avaliação de seus valores,
obtêm-se a fórmula específica de cálculo do
Índice de Morisita Padronizado que varia
de -1,0 a +1,0, com o limite de confiança de 95% a +0,5 e
-0,5.
O modelo aleatório é caracterizado por Ip = zero, o modelo agregado > que zero e o modelo uniforme < que zero.
Onde: X20,025 = valor de Qui-quadrado tabelado com (n-1) graus de liberdade que tem 2,5% da área para direita.
Por exemplo, quando na ocorrência de Id ³ Mc > 1,0 a fórmula indicada para o cálculo do Índice de Morisita padronizado é:
O padrão de distribuição, no qual os nutrientes são retornados à pastagem na forma de fezes e urina é desuniforme (Donald e Leslie 1969; Morton 1984; Haynes e Williams 1993; Mathews et al 1996). O retorno dos nutrientes, geralmente, é influenciado pelo comportamento animal e pelo manejo empregado. Na atividade leiteira, por exemplo, os animais são trazidos do pasto para áreas próximas ao curral duas vezes por dia para serem ordenhados. Considerando que a estimativa da quantidade de nutrientes excretadas, por vaca/ano, pode variar de 2 a 11kg de N, de 4 a 14 kg de K, de 0,5 a 3 kg de P e de 1 a 2 kg de S (Haynes e Williams 1993), uma fração destes pode não mais retornar ao pasto. Na oportunidade da espera da ordenha, foi estimado que 14% das excretas produzidas por vacas holandesas (Holsteins) não retornam as pastagens (White et al 2001). Na condição da espera ser feita em piquetes próximos ao curral, alguma quantidade destes nutrientes ainda podem ser aproveitados pelas plantas aí existentes, contudo, a deposição em lugares não produtivos, em termos de produto vegetal, fatalmente ocorre. Como exemplo, são citadas as proximidades de cochos de alimentação de sal e bebedouros (Haynes e Williams 1993, Braz 2001), abrigos para os animais, abrigos para ordenha, lugares com sombra, no pátio do curral e em cursos de água, sejam na exploração do gado de leite como na de corte (Haynes e Williams 1993).
Outro aspecto a ser considerado na distribuição de nutrientes, pelas excretas dos animais, é que sua deposição pode estar associada ao desenvolvimento de deficiências nutricionais para plantas de algumas áreas e excesso de nutrientes em outras (Mathews et al 1996), ou mesmo pode favorecer determinado componente botânico da pastagem. Em piquetes rotacionados, usados no período diurno e consorciados com gramínea/leguminosa (Clover - Trifolium repens L.), em fazendas de exploração leiteira na Nova Zelândia, foi observado a dominância da leguminosa. O inverso aconteceu para os piquetes usados no período noturno (predominância da gramínea). Tal fato foi atribuído aos maiores retornos de N pelas excreções dos animais quando no pastoreio noturno acarretando menor concentração de N no solo nas áreas de uso diurno favorecendo o predomínio da leguminosa (Haynes 1981 apud Haynes e Williams 1993). Cabe ressaltar que as áreas usadas no período noturno eram menores o que proporcionou uma melhor distribuição das excretas e seu conseqüente aproveitamento pela planta. Segundo Donald e Leslie (1969) e Crespo e Gonzalez (1983), uma maior quantidade de evacuações acontecem durante o pastoreio noturno, o que pode explicar áreas de maior concentração de fezes produzidas neste período favorecendo a gramínea nesta condição.
Em termos de manejo, com o pastejo rotacionado, uma alta taxa de lotação, permite uma menor tendência dos animais em se agruparem e, conseqüentemente, há uma melhoria na distribuição das excretas na área pastoreada do piquete. Tal fato pode proporcionar uma redução nas perdas de nutrientes das excretas e um melhor aproveitamento pelas plantas aumentando a eficiência da sua reciclagem. Entretanto, caso haja algum atrativo para os animais nestas áreas (sombras, aguadas, cercas) e um maior período de pastejo, a uniformidade na distribuição das excretas não acontece (Crespo e Gonzalez 1983). Buschbacher (1987) apud Monteiro e Werner (1997), relatam que, em piquetes de Brachiaria decumbens, utilizados de forma rotacionada por gado zebuíno (3 a 4 dias de pastejo com 26 a 28 dias de descanso), tiveram mais da metade das fezes depositadas no terço do pasto onde os animais se concentravam para descansar.
Outro exemplo, também com pastejo rotacionado, sob alta temperatura ambiente, ocorreu maior concentração de animais nos bebedouros (Perterson e Garrish 1996; Sugimoto et al 1987 apud Mathews et al 1996), relatam que as altas temperaturas de verão (>27oC), promoveram a ocorrência de 44 a 53% das micções e de 26 a 29% das evacuações nas áreas sombreadas. Quando as temperaturas não excederam a 23,5oC, somente 11% das micções e das evacuações ocorreram nestas áreas. Para melhor distribuição das excretas, especialmente em condições de altas temperaturas, White et al (2001) sugeriram a adoção de bebedouros portáteis, mudando de lugar freqüentemente.
Medida que parece mais prática é aquela adotada em uma propriedade no Estado do Paraná, Brasil, onde o criador desenvolveu um "saleiro móvel" para a mineralização de 400 matrizes bovinas e suas crias em uma propriedade de 250 hectares. Além de abastecer 13 piquetes, evitar buracos, poços dágua e outras conseqüências, verificadas com os saleiros fixos, o equipamento permite a estocagem de cerca de 1000 kg de sal (Campos 2003).
Martha Jr. (1987) apud Haynes e Williams (1993), relataram que 60% das fezes e 55% da urina produzidas pelos bovinos foram depositadas em áreas de descanso. Wilkinson e Lowrey (1973) apud Monteiro e Werner (1997) estimaram que 35,5% da área do pasto estaria coberta pelas excreções de bovinos ao final de um ano de pastoreio (11.8% com fezes e 23,7% com urina). Valor semelhante (35%), foi relatado por Dalrymple et al (1994) apud Peterson e Garrish (1996), ao final de uma estação de pastejo com uma taxa de lotação de 4,4 animais.ha-1.
Apesar da área afetada pelas fezes serem individualmente pequenas, o tipo de manejo adotado com os animais pode fazer com que cerca de 1/3 ou de 30 a 40% da superfície da pastagem seja ocupada por essas excreções anualmente (Haynes e Williams 1993; Afzal e Adams 1992). Isso pode significar melhor distribuição dos excrementos como relatado por White et al (2001) que, observando as excreções em pastejo rotacionado, com 18 vacas Holstein e 18 vacas Jersey, em 0,74 hectares, relataram que 86% das excreções ocorreram no pasto, contudo, somente uma área de 10% da pastagem foi afetada.
O elevado retorno de nutrientes pelas excreções dos ruminantes pode estimular o crescimento da forrageira próxima a eles localizados. Assim, Dalrymple et al (1994) apud Perterson e Garrish (1996), relataram um aumento de 217 e 279 kg/ha de forragem produzida em áreas do pasto onde fezes e urina foram depositadas, respectivamente. O aumento na produção de matéria seca de forragem em 26%, com 25 ovinos/ha e de 53%, com 50 ovinos/ha, foram relatados por Perterson e Garrish (1996).
Pode-se imaginar que, quanto maior a uniformidade da distribuição das excretas no pasto, mais reduzida será a necessidade de uso de fertilizantes para atender as necessidades nutricionais das plantas (Morton e Baird 1990). Na pastagem, a desuniformidade de distribuição das excretas é o principal fator que afeta a recomendação de fertilizantes para esses sistemas (Mathews et al 1996). Essa heterogeneidade de fertilidade do solo, bem como, a irregularidade de produção de forragem nestes ambientes é desenvolvida e mantida pelo pastejo seletivo imposto pelo animal (Hirata e Ogura 2001).
West et al (1989), relataram a ocorrência de um maior gradiente de concentração para Fósforo-extratável, Potássio e Nitrogênio em lugares próximos às aguadas tendo sido atribuída à deposição de fezes e urina de bovinos. Os autores relataram que houve aumentou da zona de concentração de nutrientes, aproximadamente de 10 a 20 metros da fonte de água, ocorrendo teores maiores que 100 e 1000 mg/kg de P e K, respectivamente, na camada de 0-75 mm de profundidade do solo, o que excedeu as necessidades nutricionais e causou consumo de luxo pelas plantas nesta condição.
Contudo, o reflexo do encadeamento: retorno de nutrientes pelas excretas, respostas em aumento de produção de matéria seca vegetal e respostas com aumento na produção animal é muito complexo e de grande dificuldade analítica. Por exemplo, o efeito proporcionado pelas fezes pode ser resultado da combinação de fatores como: número, tamanho, peso e área ocupada pelas fezes; pelo seu padrão de distribuição no pasto; da área afetada pelas fezes e pelo seu efeito no crescimento e consumo das forrageiras; da taxa de decomposição, bem como a dependência desses fatores aos aspectos relacionados às condições climáticas e ao manejo adotado em cada propriedade (Hirata et al 1991). Apesar das perdas de N das fezes serem bem menores que as verificadas com a urina (Ferreira 1995, 2002), o elemento necessita ser incorporado para surtir o efeito positivo na ciclagem de nutrientes e, conseqüentemente, na produção vegetal.
A presença das fezes em pontos do pasto, normalmente, causa rejeição ao consumo do animal ficando essa porção não consumida até que o efeito da rejeição diminua com o tempo ou novas áreas mais recentes recebam excretas passando a substituí-los. Essas áreas podem permanecer continuamente, de 2 a 3 períodos de pastejo, sem serem consumidas (Hirata et al 1997). A degradação ou desaparecimento das fezes no pasto pode estar compreendido em um período de tempo que varia de 30 dias até 17 meses, em função das condições climáticas (Weeda 1967). Essa porção rejeitada pode ocupar de 10 a 47% da área da pastagem. Todavia, não necessariamente corresponderia a uma redução no consumo da forragem, apesar de opiniões contraditórias (Hirata et al 1991). Os efeitos na produção de forragem, proporcionadas pelas excretas dos animais no pasto, é de grande importância, uma vez que elas podem responder por mais de 70% da produção anual da forrageira em sistemas de baixos inputs de fertilização (Saunders 1984).
Trabalhos que relacionam a distribuição das excretas, a perda de nutrientes, o ato de descanso, a produtividade das forrageiras e a produção animal com suas implicações sanitárias ainda são escassos.
Afzal M and Adams W A 1992 Heterogeneity of soil mineral nitrogen in the pasture grazed by cattle. Soil Science Society of America Journal, Madison. v.56, p. 1160-1166.
Ball P R and Ryden J C 1984 Nitrogen relation in intensively managed temperate grassland. Plant and Soil, Dordrecht, Volume 76, p. 23-33.
Batista L B and Batista K M 2003 Introdução a estatística/Bioestatística. Batista e Batista Ed, Rio de Janeiro, 150p.
Braz S P 2001 Distribuição de fezes de bovinos e a reciclagem de nutrientes em pastagens de Brachiaria decumbens. 77 f. TESE (Mestrado - Zootecnia). Departamento de Zootecnia, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa.
Borrow N J 1987 Return of nutrients by animals. In: Saydon, R W Editor Managed Grassland: Analytical Studies. (Ecosystems of the World: 17B). Amsterdam, Elsevier, p.181-186.
Buresh R J and De Datta S K 1991 Nitrogen dynamics and management in rice-legume cropping systems. Advances in Agronomy, San Diego, Vol. 45, p. 1-59.
Campos J M N 2003 Criador inventou saleiro móvel de dupla aptidão. Secção Alimentação, Revista DBO, ano 22, n. 271, p. 104.
CNPGL 1984 Centro Nacional de Pesquisa do Gado de Leite - Embrapa. Folheto: Biogás: Energia do meio rural para o meio rural.
Costa M J R P da 1988 Padrões de comportamento de defecação e micção de vacas holandesas em lactação. In: IV Encontro Anual de Ecologia, Florianópolis-SC, p.152.
Crespo G y Gonzalez A 1983 Cantidad y distribución de las excretas en el pastizal y su influencia en la fertilidad del suelo. Revista Cubana Ciencias y agricultura, Cuba, Volumen 17, p. 1-11.
Donald A D and Leslie R T 1969 Population studies on the infective stage of some nematode parasites of sheep II. The distribution of faecal deposits on fields grazed by sheep. Parasitology, Great Britain, Volume 59, p. 141-157.
Fenn L B and Hossner L R 1985 Ammonia volatilization from ammonium-forming nitrogen fertilizers. Advances in Soil Science. Editor BA Stewart. Volume1, p. 123-169. Spring, Verlag, New York, Berlin.
Fenn L B, Mathocha J E and Wu 1981 E. Ammonia losses from surface-applied urea and ammonium fertilizers as influenced by rate of soluble calcium. Soil Scienc Society American Journal, Madison Volume 45, p. 883-886.
Ferreira E 1995 A excreção de bovinos e as perdas de nitrogênio nas pastagens tropicais. 124 f. Tese (Mestrado - Agronomia/Ciência do Solo). Departamento de Solos, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica.
Ferreira E 2002 O destino do nitrogênio derivado da liteira de plantas forrageiras e das excretas de bovinos em sistemas de pastagens tropicais 188 f. Tese (Doutorado - Agronomia/Ciência do Solo). Departamento de Solos, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica.
Gurtler H, Ketz H A, Kolb E, Schroder L e Seidel H 1987 Fisiologia Veterinária. Capítulo 10: Fisiologia dos Rins. 306-325, 4. Ed., Editora Guanabara, Rio de Janeiro
Haynes R J and Williams P H 1993 Nutrient cycling and soil fertility in the grazed pasture ecosystem. Advances in Agronomy, San Diego. Volume 49, p. 119-199.
Hirata M and Ogura S 2001 The effect of progressive grazing of a pasture on the spatial distribution of herbage mass and utilization by cattle. In: International Grassland Congress (19:2001 - São Pedro), pg. 286-287. Proceedings of the 19 th, International Grassland Congress, Editors: J A Gomide, W R S Mattos e S C da Silva. Proceedings. Piracicaba-SP: FEALQ, 2001, 1097p.
Hirata M, Sugimoto Y and Ueno M 1991 Use of a mathematical model to evaluate the effect of dung from granzing animals on pasture production and utilization and animal production. Grassland Science (Japan), Tokyo, volume 37, p. 303-323.
Hirata M, Sugimoto Y and Ueno M 1997 Distribution of dung pats and ungrazed areas in Bahiagrass (Paspalum notatum Flügge). Grassland Science (Japan) Tokyo, volume 33, number 2, p. 128-139.
Jarvis S C and Pain B F 1990 Ammonia volatilization from agricultural land. The Fertiliser Society, Proceedings, n. 289, 35p.
Krebs C J 1999 Ecological Methodology. 2nd edition, New York: Benjamin-Cumming, 620 p.
Macdiarmid B N and Watkin B R 1972 The cattle dung patch. 3: Dsitribution and rate of decay of dung patches their influence on grazing behaviour. Journal of the British Grassland Society, Great Britain, Volume 27, p. 48-54.
Mathews B W, Sollenberger Le and Tristschler II J P 1996 Grazing systems and spatial distribution of nutrients in pastures: Soil considerations. . In: R E Joots and C A Roberts (Editors), Nutrient cycling on forage systems - Proceedings of a symposium held, march 7-8, 1996, Columbia, Missouri., pg. 213-229. Published by the Potash and Phosphate Institute (PPI) and the Foundation for Agronomic Research (FAR), 243 p, il.
Mello F de A F 1987 Uréia Fertilizante. Fundação Cargill, Campinas-SP, 192p.
Monteiro F A e Werner J C 1997 Reciclagem de nutrientes nas pastagens. In: Simpósio sobre manejo de pastagens (14:1997, Piracicaba-SP). Fundamentos do manejo rotacionado, Anais do 14 Simpósio sobre manejo de pastagem. Editors: A M Peixoto, J C de Moura e V P de Faria. FEALQ, 55-84, 327 p.il.
Morton J D 1984 The spatial distribution of excreta and its contribution to soil fertility. Under taken while working as a N.R.A.C. Scholar at the Hill Farming Research Organisation, Edinburgh from March 1983 to August 1984
Morton J D and Baird D B 1990 Spatial distribution of dung patches under sheep grazing. New Zealand Journal of Agriculture Research, Wellington, Volume 33, p. 285-294
Pertersen R G, Lucas H L and Woodhouse W W Jr 1956 The distribution of excreta by freely grazing cattle and its effect os pasture fertility. I. Excretal distribution. Agronomy Journal, Madison, Volume 48, p. 440-444.
Peterson P R and Gerrish J R 1996 Grazing systems and spatial distribution of nutrients in pastures: Livestock management considerations. In: R.E. JOOTS AND C.A. ROBERTS (Eds.). Nutrient cycling on forage systems - Proceedings of a symposium held, march 7-8, 1996, Columbia, Missouri, pg. 203-212. Published by the Potash and Phosphate Institute (PPI) and the Foundation for Agronomic Research (FAR), 243 p, il.
Richards J R and Wolton K M 1976 The spatial distribution of excreta under intensive cattle grazing. Journal of the British Grassland. Society, Great Britain, Volume 31, p. 89-92.
Rodrigues L E A 1986 Os bezouros coprófagos em pastagens. In: Favoretto V e Rodrigues L R A (Editors). Simpósio sobre ecossistemas de pastagens, Jaboticabal, 29 a 31 de agosto de 1989. Anais. FUNEP, p. 97-133, 1989.
Saunders W M H 1984 Mineral composition of soil and pasture from areas of grazed paddocks, affected and unaffected by dung and urine. New Zealand Journal of Agriculture Research, Wellington, v. 27, p. 405-412.
Simpson J and Stobbs T H 1979 Nitrogen supply and animal production from pastures. In: Morley F.H.W (Editor). Grazing Animal World Animal Science, b1, p. 261-287. Chapter 14, Edition: Elsevier Scientific Publications, Amsterdam.
Spain J M e Salinas J G 1985 A reciclagem de nutrientes em pastagens tropicais, In: Simpósio sobre reciclagem de nutrientes e agricultura de baixos insumos nos trópicos, Ilhéus, BA, 1984. Anais. Ilhéus, CEPAC, p. 256-299, 1985.
Weeda W C 1969 The effect of cattle dung patches on pasture growth, botanical composition and pasture utilization. New Zealand Journal of Agriculture Research, Wellington, Volume 10, p. 150-159
West C P, Mallarino A P, Wedin W F and Marx D B 1989 Spatial variability of soil chemical properties in grazed pastures. Soil Science Society of America Journal, Madison, volume 53, p. 784-789.
White S L, Washburn S P, King L D, Sheffield R E and Green Jr J T 2001 Spatial and time distribution of dairy cattle manure en a intensive pasture system. In: International Grassland Congress (19:2001 - São Pedro), pg. 340-341. Proceedings of the 19 th, International Grassland Congress, Editors: J A Gomide, W R S Mattos e S C da Silva. Proceedings, Piracicaba-SP: FEALQ, 2001, 1097p.
Wilkinson S R and Lowrey R W 1973 Cycling of mineral nutrients in pasture ecosystems. In: Butler G W and Balley R W (Editors) Chemistry and Biochemistry of herbage. New York: Academic Press, 1973. p. 247-315.
Received 23 June 2004; Accepted 5 July 2004